Publicado em: terça-feira, 09 de maio de 2023

Vários estudiosos apontam a família Poaceae (antiga Gramineae) como possuindo cerca de 800 gêneros com 10 mil espécies. É de se perguntar por quê nossa pecuária se sustenta em apenas dois gêneros representados por pouquíssimas espécies. As grandes comercializações de sementes de gramíneas forrageiras estão concentradas nos gêneros Brachiaria (Urochloa, para alguns) e Panicum (Megathirsus, para alguns). Dentro desses gêneros, poucas espécies estão representadas na pecuária brasileira. Podemos citar como grande maioria a B.brizantha, B.humidicola e o P.maximum. Essas três espécies fornecem quase que 92% das plantas forrageiras que cobrem nossas pastagens. Poucos representantes existem fora delas. A B.ruziziensis é hoje considerada uma planta agrícola pois raramente é pastejada. Das cultivares em uso, a Marandu suplanta todas as demais com facilidade. Vemos, assim, enormes extensões de terras cobertas por Marandu, MG-5 Vitória, MG-4, humidícola, Mombaça, MG-12 Paredão e mais recentemente Zuri, Miyagui e MG-18 Áries II. Porém, todas pertencentes a somente dois gêneros. Bem distantes dessas temos poucas áreas com representantes de outros gêneros como Andropogon, Setaria, Cenchrus. Em anos passados vários outros materiais foram utilizados (Melinis, Hiparrhenia, Paspalum, Cynodon, Digitaria). Inúmeros artigos científicos e várias teses foram publicados tendo como tema esses gêneros na década de 80. Características positivas e interessantes foram detectadas como um ótimo acabamento dos animais e fácil manejo no verão (Hiparrhenia); alta aceitabilidade, ótimo valor nutritivo, consumo mesmo na seca (Melinis); bom valor nutritivo, fácil manejo; e bom pasto maternidade (Cynodon); boa produção de sementes e persistência (Paspalum); ótimo feno, elevado consumo (Digitaria). Outras características limitantes foram identificadas na época como: florescimento precoce e queda do valor nurtritivo em Hiparrhenia e Paspalum; baixa capacidade de suporte em Melinis; baixa ou insignificante produção de semente viáveis em Digitaria e Cynodon.

Por que deixamos de usar essas forrageiras? Será que foi pelo sucesso das braquiárias e pela qualidade dos panicuns?

A verdade é que tanto os pecuaristas como a pesquisa relegaram outros materiais e concentraram atenção à Brachiaria e ao Panicum deixando o comércio carente quanto à oferta de cultivares de outros gêneros e/ou espécies.

Essa falta de diversidade leva a uma situação de fragilidade perante os eventos da Natureza e mesmo face a ação do homem. Lembramos aqui, os ataques de cigarrinha da cana-de-açúcar ocorridos em Marandu e mais recentemente a morte súbita desta cultivar em locais com má drenagem. Em 2020 toda a pastagem dos estados de Queensland e de New South Walles na Austrália foi dizimada por uma cochonilha. Essas áreas eram cobertas por só uma cultivar de forrageira.

Voltando aos recursos naturais vemos a família das Fabaceae (antiga Leguminosae) com cerca de 750 gêneros e perto de 18 mil espécies distribuídas nas subfamílias Mimosoideae, Caesalpinioideae e Papilionoideae, muitas com grande potencial forrageiro. Algumas décadas atrás havia no Brasil toda uma cultura voltada ao uso das leguminosas com o intuito principal de suprir as gramíneas do seu principal e mais caro insumo que é o nitrogênio. Naquela época houve grandes avanços na busca e avaliação de germoplasma, na pesquisa em fixação biológica do N, na formação e manejo de pastos consorciados e na produção de sementes.

Não só a pesquisa oficial, mas também a iniciativa privada se envolveu nesse assunto. Empresas foram formadas para produzir inoculantes específicos para determinadas espécies e outras trabalhavam, preferencialmente, com leguminosas como foi o caso da Selegram e da Semel.

O Instituto de Zootecnia sediou em Sã Paulo (Nova Odessa) o Simpósio Internacional sobre o uso de leguminosas arbóreas e arbustivas seguindo o que foi realizado na Austrália. Grande contribuição foi dada pela família Penteado Cardoso na fazenda Mundo Novo com pastos consorciados utilizando essas plantas.

O Brasil chegou a registrar, na época, perto de 20% de suas pastagens consorciadas com leguminosas.

A pergunta é: o que aconteceu com toda essa bagagem informacional? Qual o motivo que nos trouxe à situação de hoje onde praticamente só dois gêneros ocupam 180 milhões de hectares nos deixando apreensivos às possíveis e prováveis ações da Natureza?

Há uma riqueza enorme em germoplasma ainda para ser estudado ou para ter seu uso recuperado agora com o auxílio de ferramentas modernas como a biotecnologia (transgenia, edição gênica,etc) , a bioinformática, a fisiologia vegetal e mesmo o melhoramento “clássico” para a solução dos problemas identificados em 80/90 ofertando cultivares adaptáveis aos diferentes biomas e mesmo aos mais distintos nichos ecológicos e pertencentes a gêneros distintos de Brachiaria e Panicum.

Gêneros como Desmanthus, Kochia e Atriplex poderiam contribuir de maneira bastante significativa para a pecuária na caatinga e no agreste.

Estudos com bactérias fixadoras de N podem resolver os problemas da alta competitividade e da baixa eficiência das estirpes nativas nos solos brasileiros.

No momento em que está retornando a demanda por pastos mistos de várias gramíneas, é oportuno pensar em agregar a essa mistura uma ou duas leguminosas.

Também a intensificação de testes e estudos com Cenchrus, Andropogon, Paspalum, Digitaria, Cynodon, Melinis, Hiparrhenia, Desmantus e outras arbustivas seria de todo conveniente.

Nesse sentido a Matsuda pode-se considerar privilegiada pois já tem implantada a cultura dos pastos consorciados e também dispõe de cultivares de leguminosas já obtidos pele sua equipe de pesquisa e desenvolvimento.

Por Dr. Paulo Bardauil Alcântara Consultor e Pesquisador do Grupo Matsuda

Escrito por:
Grupo Matsuda

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